Mateus 27
O suicídio de Judas (Atos 1.16-19.)

1

E, CHEGANDO a manhã, todos os príncipes dos sacerdotes, e os anciãos do povo, formavam juntamente conselho contra Jesus, para o matarem;

2

E manietando-o, o levaram e entregaram ao presidente Pôncio Pilatos.

3

Então Judas, o que o traíra, vendo que fora condenado, trouxe, arrependido, as trinta moedas de prata aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos,

4

Dizendo: Pequei, traindo o sangue inocente. Eles, porém, disseram: Que nos importa? Isso é contigo.

5

E ele, atirando para o templo as moedas de prata, retirou-se e foi-se enforcar.

6

E os príncipes dos sacerdotes, tomando as moedas de prata, disseram: Não é lícito metê-las no cofre das ofertas, porque são preço de sangue.

7

E, tendo deliberado em conselho, compraram com elas o campo dum oleiro, para sepultura dos estrangeiros.

8

Por isso foi chamado aquele campo, até ao dia de hoje, Campo de sangue.

9

Então se realizou o que vaticinara o profeta Jeremias: Tomaram as trinta moedas de prata preço do que foi avaliado, que certos filhos d’Israel avaliaram.

10

E deram-nas pelo campo do oleiro, segundo o que o Senhor determinou.
Jesus perante Pilatos (Mar. 15. 1-20. Luc. 23. 1-25. João 18. 26-28;19. 1-16. ).

11

E foi Jesus apresentado ao presidente, e o presidente o interrogou, dizendo: És tu o Rei dos judeus? E disse-lhe Jesus: Tu o dizes.

12

E, sendo acusado pelos príncipes dos sacerdotes e pelos anciãos, nada respondeu.

13

Disse-lhe então Pilatos: Não ouves quanto testificam contra ti?

14

E nem uma palavra lhe respondeu, de sorte que o presidente estava muito maravilhado.

15

Ora, por ocasião da festa, costumava o presidente soltar um preso, escolhendo o povo aquele que quisesse.

16

E tinham então um preso bem-conhecido, chamado Barrabás.

17

Portanto, estando eles reunidos, disse-lhes Pilatos: Qual quereis que vos solte? Barrabás, ou Jesus, chamado Cristo?

18

Porque sabia que por inveja o haviam entregado.

19

E, estando ele assentado no tribunal, sua mulher mandou-lhe dizer: Não entres na questão desse justo, porque num sonho muito sofri por causa dele.

20

Mas os príncipes dos sacerdotes e os anciãos persuadiram à multidão que pedisse Barrabás e matasse Jesus.

21

E, respondendo o presidente, disse-lhes: Qual desses dois quereis vós que eu solte? E eles disseram: Barrabás.

22

Disse-lhes Pilatos: Que farei então de Jesus, chamado Cristo? Disseram-lhe todos: Seja crucificado.

23

O presidente, porém, disse: Mas que mal fez ele? E eles mais clamavam, dizendo: Seja crucificado.

24

Então Pilatos, vendo que nada aproveitava, antes o tumulto crescia, tomando água, lavou as mãos diante da multidão, dizendo: Estou inocente do sangue deste justo: considerai isso.

25

E, respondendo todo o povo, disse: O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos.

26

Então soltou-lhes Barrabás, e, tendo mandado açoitar a Jesus, entregou-o para ser crucificado.

27

E logo os soldados do presidente, conduzindo Jesus à audiência, reuniram junto dele toda a coorte.

28

E, despindo-o, o cobriram com uma capa de escarlate;

29

E, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça, e em sua mão direita uma cana; e, ajoelhando diante dele, o escarneciam, dizendo: Salve, Rei dos judeus.

30

E, cuspindo nele, tiraram-lhe a cana, e batiam-lhe com ela na cabeça.

31

E, depois de o haverem escarnecido, tiraram-lhe a capa, vestiram-lhe as suas vestes e o levaram para ser crucificado.
A crucificação (Mar. 15. 21-24. Luc. 23. 26-49. João 19. 17-37. ).

32

E, quando saíam, encontraram um homem cireneu, chamado Simão, a quem constrangeram a levar a sua cruz.

33

E, chegando ao lugar chamado Gólgota, que se diz: Lugar da Caveira,

34

Deram-lhe a beber vinho misturado com fel; mas ele, provando-o, não quis beber.

35

E, havendo-o crucificado, repartiram os seus vestidos, lançando sortes, para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta: Repartiram entre si os meus vestidos, e sobre a minha túnica lançaram sortes.

36

E, assentados, o guardavam ali.

37

E por cima da sua cabeça puseram escrita a sua acusação: Este É Jesus, O Rei dos Judeus.

38

E foram crucificados com ele dois salteadores, um à direita, e outro à esquerda.

39

E os que passavam blasfemavam dele, meneando as cabeças,

40

E dizendo: Tu, que destróis o templo, e em três dias o reedificas, salva-te a ti mesmo; se és Filho de Deus, desce da cruz.

41

E da mesma maneira também os príncipes dos sacerdotes, com os escribas, e anciãos, e fariseus, escarnecendo, diziam:

42

Salvou os outros, e a si mesmo não pode salvar-se. Se é o Rei d’Israel, desça agora da cruz, e creremos nele;

43

Confiou em Deus; livre-o agora, se o ama; porque disse: Sou Filho de Deus.

44

E o mesmo lhe lançaram também em rosto os salteadores que com ele estavam crucificados.

45

E desde a hora sexta houve trevas sobre toda a terra, até à hora nona.

46

E perto da hora nona exclamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lama sabactâni, isto é, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?

47

E alguns dos que ali estavam, ouvindo isto, diziam: Este chama por Elias.

48

E logo um deles, correndo, tomou uma esponja, e embebeu-a em vinagre, e, pondo-a numa cana, dava-lhe de beber.

49

Os outros, porém, diziam: Deixa, vejamos se Elias vem livrá-lo.

50

E Jesus, clamando outra vez com grande voz, rendeu o espírito.

51

E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo; e tremeu a terra, e fenderam-se as pedras.

52

E abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos que dormiam foram ressuscitados;

53

E, saindo dos sepulcros, depois da ressurreição dele, entraram na cidade santa, e apareceram a muitos.

54

E o centurião e os que com ele guardavam a Jesus, vendo o terremoto, e as coisas que haviam sucedido, tiveram grande temor, e disseram: Verdadeiramente este era Filho de Deus.

55

E estavam ali, olhando de longe, muitas mulheres que tinham seguido Jesus desde a Galileia, para o servir;

56

Entre as quais estavam Maria Madalena, e Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu.
A sepultura de Jesus (Mar. 15. 42-47. Luc. 23. 50-57. João 19. 38-42. ).

57

E, vinda já a tarde, chegou um homem rico de Arimateia, por nome José, que também era discípulo de Jesus.

58

Este foi ter com Pilatos, e pediu-lhe o corpo de Jesus. Então Pilatos mandou que o corpo lhe fosse dado.

59

E José, tomando o corpo, envolveu-o num fino e limpo lençol,

60

E o pôs no seu sepulcro novo, que havia aberto em rocha, e, rodando uma grande pedra para a porta do sepulcro, foi-se.

61

E estavam ali Maria Madalena e a outra Maria, assentadas defronte do sepulcro.

62

E no dia seguinte, que é o dia depois da Preparação, reuniram-se os príncipes dos sacerdotes e os fariseus em casa de Pilatos.

63

Dizendo: Senhor, lembramo-nos de que aquele enganador, vivendo ainda, disse: Depois de três dias ressuscitarei.

64

Manda pois que o sepulcro seja guardado com segurança até o terceiro dia, não se dê o caso que os seus discípulos vão de noite, e o furtem, e digam ao povo: Ressuscitou dos mortos; e assim o último erro será pior do que o primeiro.

65

E disse-lhes Pilatos: Tendes a guarda; ide, guardai-o como entenderdes.

66

E, indo eles, seguraram o sepulcro com a guarda, selando a pedra.
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